Vinil Rita Lee - Reza (2LP Vermelho e Azul)
“Reza”, último álbum de estúdio de Rita Lee & Roberto de Carvalho, é celebrado em vinil duplo.
O LP, de 2012, é um clássico da dupla e está cheio de joias a serem descobertas
Por Guilherme Samora*
“Deus me perdoe por querer/ que Deus me livre e guarde de você”. O verso, de “Reza”, música-título do último álbum de estúdio gravado por Rita Lee e Roberto de Carvalho, de 2012, já diz a que veio. A composição é um hit-assinatura que ficou marcado para sempre no cancioneiro: a música esteve no topo das mais tocadas por semanas. O álbum é celebrado com um aguardado relançamento em LP, pela Universal Music, que vem caprichado. Pela primeira vez em disco duplo e, portanto, com todas as músicas que vinham no CD, ele chega nas cores azul e vermelha. A capa, original, com a mandala de Rita, é gatefold, com encarte e envelopes.
O título soa perfeito para um disco cheio de (claro!) rezas, hinos pagãos, ladainhas, divagações e retratos da vida cotidiana. “Pistis Sophia” dá o tom ao abrir o disco com uma atmosfera sobrenatural. A sobreposição de vozes de Rita nos apresenta diversas mulheres, com sotaques, timbres e emoções distintos. É uma daquelas canções em que nos deparamos com o enorme talento de intérprete de Rita.
“Reza”, o grande sucesso do álbum, vem com uma curiosidade: a letra é uma oração que Rita criou e que ficava na mesa de cabeceira da cama dela. No clipe, ela passeia por uma floresta. Aqui e ali, seres do bem e do mal vão surgindo em seu caminho. No meio da canção, uma aparição pra lá de benvinda: Roberto e sua guitarra ajudam a espantar o mau-olhado.
Mais mundanas, “Tô um lixo” e “Vidinha” trazem uma visão um tanto quanto desiludida da rotina da vida, com críticas mordazes e pitadas de ironias autobiográficas. Certa vez, conversando com Rita, ela me disse que considerava esse disco o “casamento entre a sujeira e a sofisticação”. “Divagando", misteriosa, é uma joia escondida. Ainda será descoberta. Roberto toca praticamente todos os instrumentos: guitarras, violões, teclado, baixo, além de fazer as programações eletrônicas e loops.
Roberto assina a produção junto de Apollo Nove, o coprodutor. A concepção é de Rita & Roberto, assim como a composição de quase todas as músicas, com exceção de “Pistis Sophia”, “Bixo Grilo”, “Bagdá” e “Bamboogiewoogie”, que são só de Rita.
"As Loucas" é um rock pesado com temática feminina/ feminista contra a calhordice de muitos homens. A cara da Rita: “Eles amam as loucas/ Mas se casam com outras”. Delícia pura. Na linha “só podia sair da cabeça genial de Rita” também está “Bixo Grilo”, com vocal tesudo. A volúpia de Rita, que deu o tom a vários discos clássicos da dupla, também aparece em rapaz.
As supracitadas “Bagdá” e “Bamboogiewoogie” mostram a veia tropicalista de Rita e a verve da dupla de passear por estilos musicais sem pudores. O bom humor de “Bagdá” se junta a mais duas impagáveis: "Tutti-Fuditti" e “Gororoba”.
A instrumental e psicodélica “Pow” fecha o disco com o casamento entre o theremin de Rita com a guitarra de Roberto. Gravado majoritariamente no estúdio de Rita e Roberto na “casa no mato”, na grande São Paulo, o álbum merece ser celebrado junto dos grandes clássicos da dupla fundamental para a música. Afinal, o pop/ rock brasileiro pode ser dividido em ARR e DRR, antes e depois de Rita & Roberto.
Amém!
*Guilherme Samora é jornalista, editor e estudioso do legado cultural de Rita Lee
Repertório dos LPs:
Disco 1 lado A:
1. Pistis Sophia
2. Reza
3. Tô um Lixo
4. Divagando
Disco 1 lado B:
5. Vidinha
6. As Loucas
7. Bixo Grilo
Disco 2 lado A:
8. Paradise Brasil
9. Rapaz
10. Bagdá
11. Tutti-Fuditti
Disco 2 lado B:
12. Gororoba
13. Bamboogiewoogie
14. Pow